Embora agora não aconteça tanto (ou, pelo menos, eu não tenho notado), aqui há uns tempos cada autor parecia obcecado em transmitir a ideia que saíra do ventre de caneta em punho e ideias formadas. Um despique no qual usavam como arma e divisa de orgulho a idade precoce com que começaram a escrever. 14! 13! 9! Os números desciam de tal maneira que a determinada altura temi ler sobre autores cuja carreira literária começara na altura da concepção ou na encarnação anterior.
Gosto de acreditar que tais afirmações não são feitas para alcançar uma suposta superioridade face aos demais, mas apenas para demonstrar que o interesse pela arte de escrever nasceu cedo e com ela o longo processo de aprendizagem.
Têm razão, estou a ser ingénuo.
Verdade, já aqui falei das minhas primeira experiência como escritor, contudo, para mim a idade em que elas aconteceram não é motivo de orgulho, apenas um facto, aliás, nada nelas existe para que sejam olhadas com orgulho. Um misto de humildade e embaraço, que relembram o logo caminho percorrido e o ainda extenso por percorrer, talvez, mas não orgulho. Um autor usar a primeira história que escreveu, especialmente quando feita em tenra idade, para valorizar, de algum modo, a sua escrita, é o mesmo que avaliar a vida sexual pela primeira masturbação. É como medir o talento de um engenheiro civil pela primeira construção com Legos ou um futebolista pela primeira vez que chutou uma bola.
Todos aqueles autores que nos querem convencer que a sua primeira palavra foi subtexto e que conceberam uma trilogia antes de saberem andar não entendem que os prodígios, por definição, são raros. Os Mozart’s são a excepção, não a regra! Por cada génio literário, existem centenas de escritores que têm de trabalhar duramente e é nessa categoria que a maioria de nós se encaixa.
Meus amigos, querem o rótulo de génio, força, é vosso, eu prefiro admitir desde já o oposto e continuar a aperfeiçoar-me.
No comments:
Post a Comment