A maioria das pessoas têm dificuldade é perceber que podemos ter uma personagem feminina que seja forte, sem que ela seja uma personagem feminina forte.
O que é para mim uma personagem feminina forte? Talvez seja mais fácil dizer o que não é. Uma personagem feminina forte não é:
- uma pita que passa metade da história à procura do príncipe encantado e a outra metade a choramingar porque ele partiu.
- uma fedelha virginal que recebe poderes simplesmente porque sim e se comporta como uma adolescente irritante.
- uma amazona com um peito tão grande que tem atracção gravitacional e que combate com uma armadura estrategicamente retalhada.
- uma mulher que de início se apresenta independente, sarcástica e anti-convenções, mas que se torna mansa como um cordeirinho mal arranja homem.
- alguém que decide casar e ter filhos com o primeiro gajo que come, abandonado todos os sonhos e objectivos, como se eles nunca tivessem existindo.
- alguém que se apaixona à primeira vista, deixando-se dominar por um gajo abusivo, em redor do qual orbita.
- uma pin-up feita para satisfazer fantasias.
- uma presença bidimensional, cuja única característica é o facto de ser mulher.
Estas personagens têm a sua utilidade. Afinal, se não existirem personagens femininas fracas, como distinguiríamos as fortes. O que não têm é o direito a um rótulo que lhe foi colocado simplesmente porque sabem lutar.
Conseguir combater “como os rapazes” não faz uma personagem forte, essa é apenas uma parte que tem de ser apoiada por uma comportamento que exteriorize o que ela é e não aquilo que a sociedade espera que seja. À sua maneira, a princesa guerreira acabou por tornar-se apenas mais um estereótipo aceitável, que visa balizar o que deve ou não ser feito. Sim, uma personagem feminina forte pode ser atraente e ter um forte cariz sexual, mas não apenas para satisfazer fetiches. Pode querer casar e ter filhos, porém, tais decisões devem ser justificadas pela sua personalidade e não pelo simples facto de ter os órgãos reprodutores no interior em vez do exterior.
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