Ocasionalmente, no decorrer das sessões de divulgação, pedem-me para ler um excerto de “Crónicas Obscuras – A Vingança do Lobo”. Isto deixa-me desconfortável, pois, além de nunca saber que parte do texto devo escolher (acho sempre que qualquer que seja a seleccionada, será incapaz de dar uma visão geral da obra, fazendo-lhe justiça), os meus talentos de orador não beneficiam as personagens.
De resto, não gosto de ouvir ler, nem sequer quando sou eu a fazê-lo, na privacidade do lar. Prefiro ter a voz do narrador na minha mente, enquanto os meus olhos interpretam os caracteres, do que ouvi-la através de um avatar, por mais talentoso que este seja. A razão para isto é simples, por melhor que o leitor seja, não é o meu narrador, aquela vozinha interior que me habituei a ouvir desde pequeno, que parte de mim, como um pedaço da minha consciência.
Não sei se passam pela mesma experiência. Na verdade, eu só tomei verdadeira consciência disto quando, após vários anos de leitura silenciosa, fui a uma sessão literária em que leram o excerto de uma obra e aquilo chocou com os meus sentidos. A leitora em questão fez o seu trabalho impecavelmente e, devo dizer, que o facto de terem escolhido uma mulher fez todo o sentido, pois o texto fora escrito por uma autora, logo o narrador deveria ter uma voz feminina, contudo, não fui capaz de gostar (apesar de adorar a obra que foi lida). Afinal, como é que a realidade podia corresponder aquilo que concebera na minha mente? No decorrer dessa leitura, mais do que nunca, tomeis consciência que a voz do meu “narrador interno” era masculina e que mesmo na presença de narradores participantes do sexo feminino, essa característica não desaparece completamente.
E vocês? Preferem ler em silêncio ou em voz alta? Ler ou ouvir? Conseguem identificar a natureza do vosso “narrador interno”?
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