Neste texto, Safaa Dib aponta que o “mundo respeitado da literatura” (o quer que isso queira dizer) ainda é governado pela realidade pura e dura, ao mesmo tempo que se torna cada vez mais fácil identificarmo-nos com os protagonistas das obras de fantasia e ficção científica, não só pelas características do mundo contemporâneo, mas também devido ao esforço de vários autores (esta é a minha interpretação, sendo altamente subjectiva).
À medida que arguiu tal ideia perguntou: “Mas ao retratar fielmente a nossa sociedade estaremos a reflectir sobre ela da forma certa?” Não é, de modo nenhum, a questão mais importante do texto, mas foi aquela que mais me interessou.
Um dos motivos porque me senti atraído pela ficção científica e pelo fantástico (sim, para além dos monstros e batalhas épicas) foi a possibilidade de observar relações, sentimentos e questões sociopolíticas abordadas fora do contexto habitual, sem o peso imediato de tal background, o que dá a oportunidade de abordá-las com uma maior profundidade (sim, a influência dos background continua lá, mas o ligeiro distanciamento permite certos exercícios intelectuais). Pois, assim que removemos as naves espaciais e dragões, o coração (o “sumo da batatinha” como diz Jean-Yves Blot) das histórias baseia-se em questões inconfundivelmente humanas (quer os protagonistas o sejam ou não).
Não estou a dizer nada que já não soubessem. Quem vê X-men apercebe-se imediatamente das questões raciais e sociais inerentes à narrativa. Qualquer livro ou filme pós-Apocalíptico ou Apocalítico debruça-se sobre a fragilidade da civilização e moral humana. The list goes on.
Afinal, não é a própria realidade que criámos um fragmento da nossa imaginação?
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